segunda-feira, 9 de julho de 2012

Os relógios que a natureza nos deu

Uma vez, um taxista comentou comigo que um tio dele, no Ceará, sem nunca usar relógios, sabia sempre a hora certa.
– “A margem de erro dele era menor do que dois minutos; e a gente adorava ficar perguntando a hora pra ele, para conferir. Era impressionante.”

Relógios biológicos não são prerrogativa deste tio cearense. Nossos corpos têm seus próprios relógios vivos. Esses cronômetros internos são inatos e atuam sobre a temperatura do corpo, sobre os processos químicos do organismo, sobre as atividades nervosas e sobre o metabolismo.

São dois, instalados em nossos cérebros: o relógio circadiano e o relógio de intervalo. O circadiano é bem conhecido de todos nós. Comandado pela glândula pineal e pela melatonina que ela produz, é o que nos faz dormir e nos faz acordar, às vezes minutos antes do despertador tocar, abrindo os olhos para um novo dia. Alimentado pelos ciclos diários de luz e escuridão, este é o nosso relógio das 24 horas.

O relógio de intervalo é completamente diferente. Pode operar em frações de segundo, quando, por exemplo, nos ajuda a calcular, inconscientemente, a velocidade em que temos de correr para conseguir chutar uma bola em movimento; ou nos ajudar a nos situar em intervalos de tempo maiores nas nossas atividades cotidianas. Ao contrário do circadiano, relativamente preciso, os relógios de intervalo podem ser afetados por fatores bioquímicos (como a adrenalina, por exemplo) que alteram nossa percepção subjetiva do tempo: um momento feliz pode parecer rápido demais e uma atividade desinteressante pode parecer uma eternidade.

Ritmos e ciclos fazem, enfim, parte indissolúvel da nossa existência. Basta acompanharmos as batidas do nosso coração ou observarmos o compasso da nossa respiração para constatarmos este verdadeiro milagre, que permite o funcionamento de todo o nosso organismo, como um mecanismo de relojoaria.

Enquanto dormimos, células de grande parte de nosso corpo se regeneram, e se renovam. A cada 28 dias – ou próximo disso – as mulheres reciclam sua “usina” de procriação, no seu ciclo menstrual, criando assim as condições básicas para que nossa espécie continue se perpetuando. À nossa volta, não é diferente. Enquanto a terra gira em torno de si mesma e nos conduz na sua permanente viagem de translação ao redor do sol, a natureza vai experimentando a sucessão das estações, o ritmo das marés, tudo afetando a vida em todo o planeta.

Enfim, todos estes mecanismos internos e externos contribuem para nossa habilidade inata de se relacionar com o tempo, que independe dos relógios e da tecnologia ao qual nos escravizamos. Será que estamos conscientes e tomando partido destas habilidades? Encontrar uma nova relação com o uso do tempo pode de fato nos reaproximar e reconectar com a natureza.

(Texto extraído e adaptado do Livro Tempo Orgânico)
 

Fonte da ilustração: http://franciscotrindade.blogspot.com.br/2010/09/olho-de-relogio.html

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