terça-feira, 29 de abril de 2014

Segunda chance: sobrevivi a um choque de 6.000 volts


Isso faz tempo. Décadas. Mas era um 29 de abril. Eu ainda era solteiro e morava com meus pais. Acabaramos de nos mudar para um novo apartamento, que tinha uma enorme janela na sala: 12 metros.

Sábado de manhã, chega o cara que vinha instalar os trilhos da cortina: cada seção media seis metros e não passava pela escada. Tinha que ser por fora do prédio e era preciso algúem ajudar. Ofereço-me como voluntário, parecia simples. Ficavamos no segundo andar e bastava puxar o trilho para dentro, quando o carinha me alcançasse ele lá de baixo.

De repente, o inesperado. Ao puxar o trilho, de alumínio, longo e bem mais leve do que eu imaginava, sua extremidade se eleva com rapidez e toca o fio de alta tensão, que ficava mais ou menos na altura da janela, uns cinco metros afastado. Encostado na esquadria de alumínio da janela, meu corpo fechava o circuito como uma "luva".

Ouvi o forte estrondo e senti meu corpo ser ejetado para trás.

A sensação seguinte foi a mesma que muita gente já relatou. À medida em que fui apagando em camera lenta (apesar disso ter levado fração de segundo), imagens da minha vida foram passando, flash back como uma edição de video clipe. Enquanto isso, pensava:

- "Que merda! Morrer aos vinte e três anos por causa de uma babaquice dessas. Que morte mais triste, gente".

Logo em seguida, a consciencia começa a voltar. Aos poucos, me dou conta que meu corpo estava totalmente retorcido: posição fetal, todos os músculos crispados.

- "Graças a Deus!!! Não estou morto. Vou ficar aleijado assim, mas vou conseguir viver, penso com moderado otimismo".

Nisso, ouço os gritos de "mexa-se", "movimente os braços", "abra e feche as mãos", "tente se esticar" e obediente, aos pouco vou percebendo que tudo volta a uma certa normalidade. Depois, fiquei sabendo que era um bendito vizinho do prédio em frente, médico, que assistira a tudo. Uma sorte!!!

Outra sorte: o trilho tocou a fiação vindo de baixo para cima e o circuito se interrompeu, assim que fui atingido. Na rede elétrica, havia uma plaquinha que vi mais tarde: "Cuidado - 6000 volts".

Constato então a enorme queimadura nas mãos e na parte lateral superior da perna (na altura da esquadria onde me apoiara na hora do acidente) e vejo minha mãe também caida no chão, metros adiante. Ela também se encostara na janela e apesar de forma bem mais leve, também fora atingida pela energia.

Bem: a ambulância chegou, eu e Jacy fomos medicados em casa, mesmo, tomei sob protestos uma injeção de calmante. Horas depois, a calma me abandonou. A lembrança daquela sensação de "morrer" (o tal flash back) se instalou, me fazendo chorar. Passei o resto de sábado e todo domingo naquele estado. Na segunda meu pai aplicou uma terapia ocupacional:

- É melhor você mesmo ir tratar dessa história na Light (o transformador do prédio queimara e estavamos sem luz).

Isto aconteceu num dia 29 de abril, que considero portanto um segundo aniversário (sou de 13 de fevereiro).

Hoje, sei que aquele foi mesmo uma espécie de "Reset" na minha vida. Ou um alerta, se preferirem. Me fez refletir sobre as coisas, rever conceitos, fazer balanços. Paradoxalmente, o fato me fortaleceu, apesar de me ter colocado frente a frente com minha fragilidade e minha finitude.

Meses depois, deixo uma promissora carreira na Marinha, após dez anos por lá, surprendendo até a mim mesmo. E parto para novas "aventuras", das quais definitivamente, não me arrependo.



















domingo, 13 de abril de 2014

MOMENTOS GOIABADA CASCÃO


Quando eu era menino, tanti anni fa, tinha uns tios que moravam em Campos.  Quando eles vinham ao Rio, nos traziam um presente sempre muito desejado: uma lata da famosa goiabada cascão produzida lá. Nas ausências mais prolongadas, mandavam a goiabada pelos Correios. Na época, era praticamente impossível achar aquela iguaria no comércio do Rio.

Aí, era sempre uma festa, lá em casa. Quase um ritual, na pequena família, inicialmente eu e meus pais e, mais tarde, tambem meu irmão Ricardo: abrir a lata, cortar pequenos pedaços e nos deliciarmos com aquele sabor, consistência e textura inigualáveis são detalhes que nunca mais esqueci.

Às vezes, cabia-me a "honra" de usar a faca, tentando que todas as fatias fossem rigosamente do mesmo tamanho. Sintia-me importantíssimo com aquele privilégio.

Mais do que degustações, em que eventualmente um queijo Minas ou um Catupiry também marcavam presença, era um momento afetivo muito especial.  É claro que o ritual incluia conversas sobre tia Laurita, irmã de meu pai, seu marido Clementino e os primos Marco e Anita, de Campos, que nos proporcionavam aquele prazer; além de relatos de "causos", quase sempre divertidos, sobre os parentes em geral. 

Era comum servirmos a goiabada tão apreciada a alguma visita de parente ou amigo. Pra mim, foi um um "duro" aprendizado, o de saber compartilhar as boas coisas com os outros. Nas primeiras vezes, confesso que ficava com o olho comprido, tentando calcular se sobraria algum pedaço para outra rodada, no dia seguinte.    

Simples prazeres, hábitos saudáveis de convívio familiar e amizade: boas reminicências. Momentos "Goiabada Cascão" que as nossas vidas agitadas e tecnológicas às vezes tornam difíceis de reproduzir com toda a sua intensidade "analógica", sincrônica e presencial.

 


   

segunda-feira, 7 de abril de 2014

VIVER MAIS SIMPLES - UM ENCONTRO

Eu e Letícia Carneiro da Silva nos conhecemos há um ano, quando ela buscava um especialista em tempo para um projeto. O encontro se transformou em amizade. Desde então, cultivamos o hábito de conversar sobre o bem viver e coisas de real valor para nós.

Letícia é uma usina de ideias. Foi executiva de planejamento estratégico por quinze anos. E hoje, é empreendedora e adepta de um Viver Mais Simples, crença que compartilha duas vezes por semana num blog com o mesmo nome e num livro que já está entrando em produção. Tudo que ela mais deseja é ajudar pessoas e negócios a frutificarem, sendo felizes. Seja no no bem sucedido programa “Odisseia”, por pessoas e negócios mais realizadores ou nas suas atividades como Coach. Na base de tudo, sua família, inserida nesse universo de harmonia: Lucrécio, Léo e Olivia.


Eu, vocês já conhecem. Continuo nutrido pelo espírito curioso de criança buscando aprender e me desenvolver, para somar a tudo que fui reunindo ao longo dos anos. Estive na Marinha, fui pioneiro na área de tecnologia da informação, executivo de marketing no Brasil e na Europa, publicitário premiado, expert em sustentabilidade. Hoje, sou consultor, professor e escritor, compartilhando minhas paixões pelo tempo, sustentabilidade e bom uso dos hábitos. Mas não abro mão do grande barato que é ser avô, cozinhar e trocar ideias...

Letícia e eu somos criadores e planejadores. Por escolha e profissão. Não demorou muito, bateu a vontade de um projeto coletivo. Onde pudéssemos expandir o alcance de nossos sonhos de um mundo mais simples e sustentável. Daí surgiu o Café Viver Mais Simples.

A ideia é promover encontros sobre viver melhor, com mais respiro e sentido, apoiados por ferramentas úteis e de fácil utilização.

Três temas fazem parte do programa:

- Como simplificar sua vida
- Reinvente o uso do seu tempo
- Como despertar sua coragem

Ficou com água na boca?

Inscreva-se aqui: http://even.tc/tempo