domingo, 9 de fevereiro de 2014

TODO DIA ELA (ELE) FAZ SEMPRE SEMPRE IGUAL


Assim Chico Buarque começa seu genial - mas melancólico- “Cotidiano”. Muito provavelmente você não concordaria se alguém descrevesse seu dia a dia, como o da personagem da música, independente de você ser “ela” ou ser “ele”. Ninguém gosta de ser repetitivo, redundante, até meio chato.

O nome deste “fazer sempre igual” é “hábito” e nós somos uma formidável máquina de gerá-los. Uma pesquisa da Duke University descobriu que mais de 40% das ações que as pessoas realizam todos os dias não são decisões de fato, mas sim hábitos. E eles surgem, dizem os cientistas, porque o cérebro está o tempo todo procurando maneiras de poupar esforço. Se deixado por conta própria, o cérebro tentará transformar quase qualquer rotina num hábito, pois os hábitos permitem que nossas mentes desacelerem com mais frequência.

Os hábitos têm um importante papel. Criam estrutura e referências para nossas vidas. Precisamos destas repetições para nos sentirmos mais seguros. Faz parte da chamada zona de conforto, pois cada um deles nos traz alguma recompensa: física, mental ou emocional .

O problema surge quando estes nossos queridos hábitos se avolumam e esta zona de conforto nos imobiliza e começa a atrapalhar as nossas vidas. Aliás, numa civilização que nos convida à mudança diariamente, sem qualquer cerimonia, ficarmos reféns de nossos hábitos pode ter um preço nada agradável.

Quando se fala do tempo, então, este tema se torna muito crítico, já que todos nós estamos sempre frustrados com o tempo que temos, sempre querendo mais algum. Mas nem nos lembramos de hábitos do tipo “empurrar com a barriga até virar uma crise que leva muito mais tempo para ser resolvida”. Ou de deixarmos que as interrupções impeçam que tenhamos blocos de tempo contínuos para a realização de tarefas mais complexas (e que quando retomamos a tarefa sempre temos de dar um “rewind”, perdendo etapas que já tinham sido cumpridas).

No seu ótimo livro “O poder do hábito” Charles Duhigg vai fundo no assunto e nos demonstra que, por se formarem numa área muito específica do cérebro, os hábitos não podem ser simplesmente eliminados. Se desejamos, de fato, uma mudança, precisamos conhecer muito bem o hábito a ser “atacado” e deliberadamente desenvolvermos um outro hábito – que nos traga recompensa equivalente, e que possa se superpor ao anterior.

Dá um trabalhinho mas garanto que ninguém vai cantar essa música do Chico pra você.