sábado, 7 de janeiro de 2012

A incrível capital mundial dos relógios de cuco


Passava das nove da noite quando chegamos a Triberg. As ruas estavam desertas e o ventinho, incômodo. Na porta do hotel onde planejávamos nos hospedar, uma placa dava a má notícia: fechado para férias. Do outro lado da rua, um pequeno hotel tinha luzes em algumas janelas. Lá fomos. No interfone, dissemos a palavra chave, uma das poucas do nosso precário repertório alemão: zimmer! (quarto).

Funcionou. O trinco se abriu e nos permitiu entrar no acolhedor saguão, onde logo, logo, surgiu uma autêntica fraulein, com as bochechas rosadas que lembravam a Marianne do filme Bagdá Café. Simpaticíssima, nos acomodou num amplo apartamento, tendo o cuidado, antes de sair, de fechar as modernas persianas elétricas de metal, que contrastavam com o décor anos 50. No dia seguinte, ao acionarmos a cortina, nossos olhos foram sendo invadidos, lentamente, pela exuberância da Floresta Negra, à medida em que se descortinava a visão através da grande janela. Foi emocionante.

Sim, Triberg fica dentro da Floresta Negra, nas montanhas vizinhas à cidade de Freiburg. Triberg é considerada a capital mundial dos relógios de cuco. Importante atividade econômica da cidade, é também uma das atrações turísticas principais.

Os corpos dos relógios são fabricados em madeira local, numa região da Alemanha em que a floresta é tudo e, portanto, seu manejo é meticulosamente conduzido. Mais do que isso: a região é precursora de ações ambientais importantes. Freiburg, por exemplo, é considerada a cidade mais verde do mundo e tem na energia solar um de seus carros chefes - tanto porque se especializou nessa indústria, como porque é grande usuária desse tipo de energia.

Apesar de serem produzidos em série, os relógios de Triberg são feitos à mão e seus artesão são respeitados e valorizados, geração após geração. As fabricantes são de porte pequeno ou médio e concorrem entre si de maneira profissional e respeitosa.

Todos esses fatores somados resultam numa feliz coincidência. O tempo, sublinhado de maneira quase teatral, de hora em hora, pelos cucos, e os ingredientes da sustentabilidade empresarial caminham de mãos dadas em Triberg.

Tudo somado, a cidade é inspiração e também resposta à pergunta que muitos nos fazemos:

Se o planeta está saturado e as questões sociais só fazem se acentuar, o que as empresas têm a ver com isso, afinal?

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